segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Adotar, Um Ato De Amor !

 
ADOÇÃO: A NECESSIDADE DE UM NOVO OLHAR


Angelita Márcia Carreira Gandolfi*


A adoção é um instituto que admite diversos conceitos e definições de acordo com cada momento histórico e cultural da humanidade. Situá-la e compreendê-la dentro de suas particularidades exige um esforço permanente de análise da conjuntura política, econômica e social em que se insere.

Levando-se em consideração este contexto, percebemos por meio do resgate histórico de alguns pontos referentes à adoção que, nas civilizações antigas o seu caráter era de suscetibilidade, onde a função primordial da criança adotada era a de dar continuidade no nome da família adotante, preservando acima de tudo seus bens, ou seja, as propriedades nas próximas gerações. Assim, a adoção era uma medida conveniente para famílias sem descendentes, vista como uma forma de se garantir em tempos futuros a permanência do patrimônio entre seus próprios membros.

Já na Idade Média a adoção afirma-se com um caráter de benevolência, principalmente com o advento do Cristianismo. Esta ideologia cristã com base em suas doutrinas condenava o aborto, o abandono e o infanticídio, buscando conter através da crença religiosa o acréscimo de atos atrozes praticados contra crianças, com o ideal de manutenção da ordem burguesa. Apesar de exercer forte influência no comportamento das pessoas naquela época, a Igreja não foi capaz de sanar o problema de crianças desprotegidas, porque este era de ordem estrutural. A partir de então, a adoção passou a ser vista como um ato de caridade, realizado pela "boa vontade" e pelo espírito de compaixão dos adotantes, já que estes se dispuseram a acolher alguém rejeitado, abandonado pelos pais biológicos, desconsiderando o contexto de vida que esta criança estava inserida quando ainda em família.

Por outro lado, na Idade Moderna a adoção se apresentava com uma conotação diferenciada, sendo considerada um importante instituto, pelo qual a criança começa a ter assegurados perante a família adotiva os mesmos direitos de um filho biológico. Inicia-se neste período, embora minimamente, um processo de visualização do filho adotivo como sujeito de sua história, e não simplesmente como objeto de pertencimento dos adotantes para a satisfação de suas frustrações e desejos.
 
Faz-se importante compreender a adoção como uma medida alternativa diante da presença do abandono e não como uma solução. Mais ainda, torna-se imprescindível que as famílias adotivas tenham absorvido consigo esta conotação, pois caso contrário recairíamos no período da Idade Média, considerando o ato de adotar como uma caridade, de modo que o adotante passaria a ser visto como o benfeitor. Precisamos estar atentos a lógica dos fatos, compreendendo sua essência e não nos contentando com a sua aparência, com o que nos parece ser.

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