sábado, 8 de janeiro de 2011

Em Prol da Valorização do Cinema Nacional


Ao assistirmos os curtas “A Escada” (1996) e “Palíndromo” (2001) dá para perceber claramente o domínio narrativo que o cineasta Philippe Barcinski imprime em seu cinema. E essa constatação se faz por inteira em “Não Por Acaso”, estréia do diretor em longas.
Em “Não Por Acaso”, ele conta a história de dois homens controladores, um engenheiro de trânsito e um fabricante e jogador de sinuca, que têm a vida sacudida por um acidente fatal envolvendo mulheres de suas vidas. Para dar vida a esses dois homens amargurados e fora de seus eixos com o acontecimento, Barcinski apostou no talento crescente de Rodrigo Santoro e em Leonardo Medeiros, um dos maiores atores do atual cinema brasileiro.
Philippe Barcinski vem recebendo algumas críticas ao seu filme. Alguns apontam a frieza do filme, estado acentuado pelo controle excessivo do diretor. Outros tantos desagradaram da trilha sonora, xaroposa e dispensável para esses acusadores. Não vejo problema em nenhuma dessas apontadas falhas. Gosto de filmes frios, calculados, assépticos – e gosto do extremo oposto também -, e a trilha, mesmo que excessiva em alguns momentos, não chegou a me incomodar e, vez ou outra, inclusive, gostei muito de sua colocação.
“Não Por Acaso” apresenta trabalho de atrizes de três gerações cinematográficas: Cássia Kiss, Letícia Sabatella, Graziella Moretto e Branca Messina, Silvia Lourenço e Rita Batata.
Cássia Kiss é uma presença constante no cinema. E o melhor, quase sempre em filmes marcantes como “Ele, O Boto” (1987 – Walter Lima Jr), “A Grande Arte” 91991 – Walter Salles), “Bicho de Sete Cabeças” (2001 – Laís Bodansky). Sua personagem em “Não Por Acaso”, Iolanda, mãe de uma das vítimas, tem perfil condizente com alguns trabalhos da atriz: contensão e dominação emocionais.

Graziela Moretto é uma atriz interessante, com brilho próprio tanto em drama como comédia. “Domésticas” (2001 – Fernando Meirelles e Nando Olival), “Cidade de Deus” (2002 – Fernando Meirelles e Kátia Lund) e “Viva Voz” (2003 – Paulo Morelli) foram alguns de seus trabalhos nas telas. Em “Não Por Acaso” ela faz uma participação pequena, mas faz bem a personagem Mônica, ex-esposa de Ênio (Leonardo Medeiros). Sua interpretação é pontuada por uma espécie de tristeza, ou melancolia, vista também em filme completamente diverso, “Domésticas”.
Branca Messina como Teresa é luminosa presença – Melhor atriz Coadjuvante no Cine PE. A atriz traz um frescor na primeira parte do filme, que será recuperado pela Bia de Rita Batata depois. Se Teresa é aquela que vai tentar descontrolar a vida de cartas marcadas de Pedro (Rodrigo Santoro), Bia vai ser a herança da vida de Ênio, arejando uma vida confinada às paredes do apartamento, do local de trabalho e de suas defesas emocionais.
Por fim, temos Letícia Sabatella. É impressionante como Letícia está cada dia mais linda e melhor atriz. E mais que isso: está cada vez mais cinematográfica. Impossível não deixar de imaginar o quanto “renderia” nas mãos de Walter Hugo Khouri. No entanto, em “Não Por Acaso” sua personagem é mais mal construída, prejudicada por um roteiro que não delineia muito bem a sua Lúcia. Se os demais personagens do filme, os dois protagonistas e as diferentes mulheres que os circundam, tornam-se críveis aos nossos olhos, o mesmo não se dá em relação à Lúcia, fica difícil entender e acompanhar suas motivações. Ainda assim, Letícia Sabatella consegue imprimir uma aura cinematográfica em cada aparição.
Na equipe técnica, as presenças de Fabiana Werneck, co-roterista ao lado de Philippe Bracinski e Eugênio Puppo, Andréa Barata Ribeiro e Bel Berlinck, co-produtoras ao lado de Fernando Meirelles; e Vera Hamburger na Direção de Arte.
Além do prêmio de Branca Messina, “Não Por Acaso” recebeu mais três prêmios no Cine Pe – Melhor Ator (Leonardo Medeiros), Melhor Fotografia (Pedro Farkas) e Melhor Edição (Márcio Canella).

Sinopse:

Ênio é um engenheiro de trânsito que comanda o fluxo de carros em São Paulo. Ele possui uma mania de controle que também se reflete em sua casa, onde suas ações são extremamente controladas. Ele se surpreende quando reencontra Mônica, sua ex-mulher, que lhe diz que sua filha Bia, de 16 anos, deseja conhecê-lo. O encontro é adiado devido a um acidente sofrido por Mônica, que atropela Teresa. Ambas morrem, o que faz com que Ênio e Pedro, namorado de Teresa e dono de uma marcenaria especializada na construção de mesas de sinuca, entrem em luto. Seis meses depois Bia encontra Ênio, mas pai e filha enfrentam dificuldades em se relacionar. Já Pedro é forçado a visitar o antigo apartamento de Teresa, onde agora vive Lúcia.

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