A Miséria da Música Popular Brasileira
A atualidade da música popular brasileira (MPB) é marcada pela decadência. A Música Popular Brasileira já passou por muitas fases, com altos e baixos. Na década de 50-60 viveu bons momentos, e para lembrar isto basta recordar a bossa nova, a canção de protesto, o tropicalismo, os primeiros passos do rock brasileiro (excluindo, obviamente, o rock-brega da "jovem guarda"). A década de 70 foi uma época de "vacas magras", com a música chamada "brega" e com apenas os herdeiros da década anterior honrando a MPB: Guilherme Arantes, Chico Buarque, Belchior, Rita Lee, Raul Seixas, os velhos e os novos baianos, entre outros. A década de 80 marcou um renascimento, com a onda das rádios FMs, os novos Festivais de MPB, o ressurgimento do rock nacional, e além de alguns citados que permaneceram depois dos anos 70, tivemos novos nomes, tal como Eduardo Dusek, Beto Guedes, etc. junto com os roqueiros: Kid Abelha, Titãs, Legião Urbana, Engenheiros do Havaí, Lulu Santos, 14 Bis, A Cor do Som, Ultraje a Rigor, entre inúmeros outros. Este período acompanhava a crise do regime militar e a redemocratização, junto com uma expansão da indústria cultural e do mercado consumidor composto pela juventude.
A partir do fim da década de 90 começa a
decadência... Já no começo desta década temos os primeiros sinais
do que viria: fricote, música sertaneja, pagode de baixa qualidade
até chegar ao funk-brega e outras deformações. Rita Lee, Lulu
Santos, entre outros, deveriam ter encerrado sua carreira antes de
nos brindar com suas tristes produções pós-rock. Neste "Mar
de Lama" ainda existe algo de bom, mas marginal, esporádico ou
quantitativamente insignificante. Falta criatividade, senso crítico,
efervescência cultural.
A música popular brasileira, com letras minúsculas,
está passando por um período de miséria. Quem são os responsáveis
por isso? A indústria cultural pode ser apontada como a principal
responsável pelo atual estado miserável da MPB. A necessidade de
ampliação do mercado consumidor, algo constante na produção
capitalista e que faz parte, por conseguinte, da produção cultural
nesta sociedade, produz a necessidade de uma cultura descartável,
tal como as mercadorias descartáveis. Com o desenvolvimento
capitalista, esta necessidade de ampliação do mercado consumidor se
torna cada vez mais intensa e na atualidade assume importância
fundamental para a reprodução capitalista. Esta cultura descartável
é marcada pelos ciclos de renovação periódica de produtos, pois
ela permite a reprodução ampliada do consumo. Se um determinado
estilo musical permanece por muito tempo, então o consumo também se
vê sem grandes crescimentos, pois quem compra um CD de rock and roll
de determinada banda, poderá continuar ouvindo por muito tempo, mas
se a cada 5 anos surge um novo modismo musical, então o consumo se
expande em proporção considerável. Assim, a transformação da MPB
em cultura descartável apenas mostra que a lógica do lucro domina
tudo, inclusive a produção cultural, e isto mostra a razão de seu
progressivo empobrecimento.
No entanto, há uma luz no fim do túnel: sempre que há
efervescência social, mudanças históricas, a música também ganha
impulso e o início deste século já marcou o início de uma nova
onda de mudanças e estas devem agitar o mundo musical. Mesmo contra
a vontade dos donos da indústria cultural, pois a própria lógica
do lucro não escapa de ter que divulgar aquilo que é contrário aos
seus interesses. Da contradição pode surgir o novo. Eis a
esperança.
Por Nildo Viana (*)
(*) Professor da UEG - Universidade Estadual de Goiás e
Doutor em Sociologia/UnB.
Fonte: La Insignia
Foto: Google
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