Ensino contextualizado leva realidade para escolas
Por
Instituto Recriando, organização integrante da Rede ANDI Brasil em
Sergipe.
Para melhorar o processo ensino aprendizagem de crianças e adolescentes brasileiros, criam-se métodos educacionais mais atrativos para os estudantes e eficazes na obtenção de melhores resultados. Uma dessas tentativas está presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº 9.394, que desde 1996 prevê, em seu artigo 28, a adaptação dos conteúdos curriculares às peculiaridades da zona rural e das demais regiões, além da utilização de metodologias de ensino que atendam as reais necessidades dos alunos.
Essa
proposta de ensino, a que se pode chamar de educação
contextualizada, tem como principal foco abordar os conteúdos em
sala de aula tendo como base os elementos sociais, culturais e
ambientais característicos do meio no qual os alunos estão
inseridos. Além de proporcionar um maior contato entre o educando e
a região em que vive e estimulá-lo a valorizar as especificidades e
potencialidades locais, essa prática pedagógica busca fazer com que
o estudante passe a ter maior interesse pelos conteúdos que dizem
respeito a sua realidade. Porém, é importante ressaltar que a
metodologia não pretende isolar esses meninos e meninas nas suas
regiões e nem impedir que eles conheçam outras maneiras de viver.
Apesar
das primeiras experiências de implementação do ensino
contextualizado terem ocorrido no campo, em especial na região do
semiárido brasileiro, a metodologia também tem sido disseminada e
proposta para outras regiões, a exemplo da Amazônia e dos grandes
centros urbanos. Os aspectos locais precisam ser conhecidos não só
pelas crianças e adolescentes, mas pela população geral para que
seja possível promover desenvolvimento e equidade.
Surgimento
- As
discussões e críticas acerca da educação universalista, ou seja,
aquela que trabalha os mesmos conteúdos com os alunos das mais
diversas regiões utilizando a mesma metodologia, vem desde os anos
1960. Mas foi
na
década de 90 que o movimento organizado pelo modelo contextualizado
de educação tomou dimensão nacional. Em 1996, a LDB determinou que
a oferta de educação básica para comunidades localizadas no campo
deveria ser baseada em conteúdos curriculares e metodologias de
ensino adaptados à realidade dos educandos e às peculiaridades de
cada região. Após duas Conferências Nacionais realizadas em 1998 e
em 2004, o Conselho Nacional de Educação aprovou diretrizes
nacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Ao mesmo
tempo, surgiram propostas de políticas públicas para esse contexto.
A
proposta no semiárido
- A metodologia de educação contextualizada é trabalhada em duas
vertentes: a proposta
da
educação contextualizada no campo e a educação para a convivência
com o semiárido. As duas iniciativas
tentam
reverter a descontextualização histórica do ensino fundamental
brasileiro, e se diferenciam no que diz respeito ao ambiente onde são
aplicadas. A primeira é uma proposta voltada para as escolas
localizadas nas áreas rurais de todo Brasil, enquanto que a segunda
é direcionada às zonas rural e urbana do sertão.
No
caso do semiárido, a proposta é desenvolvida juntamente com os
alunos em sala de aula de forma a auxiliar na compreensão do
semiárido brasileiro como um lugar de vida, desmontando estereótipos
como “homem sertanejo fraco”, “terra seca e improdutiva” e
garantindo o sucesso das crianças na escola e a sua permanência na
região. Para isso, é necessário que os conhecimentos a serem
trabalhados sejam construídos no espaço escolar e fora dele, tendo
as experiências do cotidiano dos alunos como ponto de partida.
Mesmo
diante de resultados satisfatórios, como avanços na leitura e na
escrita, e redução dos índices de evasão escolar e repetência,
são diversos os entraves que dificultam a implementação da
educação contextualizada. A questão cultural é um dos maiores
empecilhos, já que historicamente as políticas públicas no Brasil
são formuladas sem considerar a grande diversidade do país. Um
exemplo dessa descontextualização são os livros didáticos
confeccionados com referências apenas aos centros urbanos.
Experiências
no Nordeste -
A
primeira experiência de proposta de educação para a convivência
com o semiárido ocorreu no município Curaçá, na Bahia, que passou
a ser apontada como referência. Porém, há outros exemplos bem
sucedidos na região sisaleira baiana, no município cearense de
Crateús, e em Petrolina, Pernambuco. No município Picuí,
localizado a cerca de 220km de João Pessoa, na Paraíba, a educação
para a convivência com o semiárido já é adotada como política
pública.
Em
Sergipe, a experiência pioneira desse novo modelo aconteceu em 1998,
no povoado Sítios Novos, município de Poço Redondo, localizado a
183 quilômetros da capital. O projeto pedagógico foi desenvolvido
na Escola Municipal Bom Jesus dos Passos, como alternativa de
enfrentar e mudar os problemas vividos no município através de uma
nova educação. Além da experiência em Poço Redondo, os
municípios de Poço Verde e Simão Dias desenvolveram a educação
para convivência com o semiárido utilizando, inclusive, livros
didáticos contextualizados.
O
projeto de implementação do ensino contextualizado nessas regiões
alcançou avanços consideráveis que vão desde a adaptação da
grade curricular à realidade dos educandos até investimentos na
educação continuada dos professores que passaram a entender a
importância de fazer do aluno um indivíduo capaz de intervir e
transformar a realidade à sua volta.
Livro
didático contextualizado - O livro didático é uma
ferramenta muito importante no processo educativo. Porém, os livros
utilizados nas escolas do campo e do semiárido brasileiro não
despertam muito interesse nos educandos. Eles apresentam uma
realidade distante desses meninos e meninas, o que compromete o
aprendizado e a construção do pensamento crítico.
Foi
na tentativa de reverter essa situação que a Rede de Educação do
Semiárido Brasileiro (RESAB), com o apoio financeiro do Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF), reuniu autores e
educadores e sistematizou experiências bem sucedidas de educação
desenvolvidas em estados do nordeste. Essa sistematização permitiu
elaborar a publicação experimental “Conhecendo o Semiárido”,
que está organizada em dois volumes e é destinada a alunos da 3ª e
4ª séries.
Os
livros adequados à realidade do estudante conseguem contextualizar
os conhecimentos diversos sem negar o acesso aos conhecimentos
científicos mais universais. Eles ajudam a melhorar a qualidade de
ensino, contribuindo para o processo de construção da identidade,
porque não causam estranhamento nos estudantes.
Sergipe
é um dos estados que adotou o livro didático contextualizado
‘Conhecendo o Semiárido 1 e 2’. O título foi utilizado nas
escolas municipais Pedro Rodrigues de Souza e a Agrícola Presidente
José Sarney, em Poço Verde, e na Genésio Chagas e Desembargador
Gervásio Prata, em Simão Dias.
Como
forma de fortalecer e ampliar essa busca por uma educação adequada
para crianças e adolescentes do semiárido, a Rede de Educação
Básica do Semiárido está tentando incluir os livros didáticos de
ensino contextualizado no Programa Nacional do Livro Didático
(PNLD), a fim de que todos os alunos e professores das escolas
públicas tenham acesso a esses materiais o mais rápido possível.
Baú
de Leitura -
O
Projeto Baú de Leitura (PBL) é um modelo inovador de Educação
Contextualizada que visa construir o conhecimento de forma
participativa através de uma metodologia que tem como base o
ambiente e a cultura local. O principal objetivo do PBL é fomentar
a prática de uma leitura crítica e participativa, tomando cuidado
para que os estudantes não percam o encanto pelas histórias que
lhes são apresentadas. Os resultados trazidos pelo projeto são
transformadores no sentido de aprimorar a leitura e a construção
de conteúdo por parte das próprias crianças, que cada vez mais
sentem prazer em ler e valorizam o local onde vivem. Durante os
encontros, os meninos e meninas são levados a saborear cada
história através da interpretação, entendimento e confronto dos
textos com a própria realidade. O processo de aprendizado também
conta com o momento de produção por parte dos alunos, que criam e
recriam as histórias através de atividades lúdicas como peças de
teatro, desenhos e pinturas.
Em
Sergipe, o projeto começou a ser implantado em 2001, na região sul
do estado, em especial nos Programas de Erradicação do Trabalho
Infantil (Peti), como uma forma de prevenção e combate à
exploração da mão de obra de crianças e adolescentes.
Atualmente, a proposta está sendo executada em 40 escolas
municipais e em espaços de desenvolvimento das ações
socioeducativas e de convivência do Peti.
Diante dos bons resultados
alcançados, além dos 40 municípios sergipanos, o projeto vem
sendo desenvolvido em 98 municípios da Bahia e em 18 municípios
alagoanos, como parte das atividades de um novo Pontão de Cultura,
em Palmeira dos Índios, coordenado pelo Movimento
pró-Desenvolvimento Comunitário.
Os
baús são confeccionados em couro e compostos por materiais
didáticos e vários livros de literatura infanto-juvenil. Cada baú
contém 54 livros de 18 títulos diferentes, divididos em três
temáticas: Identidade pessoal, cultural e local; Nossa relação
com a natureza, tecnologia e meio ambiente; e Cidadania. As ações
do Baú de Leitura em alguns municípios de Sergipe são monitoradas
pelo Centro Dom José Brandão de Castro à convite do MOC e do
Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Contatos:
Rede
de Educação do Semi-Árido Brasileiro (Resab)
Adelaide
Pereira da Silva – Membro da Secretaria Executiva da Resab
Tel.: (83)
32556196/99032859
União
Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
Carlos
Eduardo Sanches – presidente
Tel.:
(61) 3037-7888
Email:
presidencia@undime.org.br
Secretaria
de Educação Básica do Ministério da Educação
Maria do
Pilar Lacerda Almeida e Silva
Tel.:
(61) 2022-8318/8319/8320
Universidade
de Brasília – Campus Universitário Darcy Ribeiro
Tel.:
(55 61)3107-3300
Email:secom@unb.br
Centro
Dom José Brandão de Castro (CDJBC)
Simone
Peixoto, coordenadora do Projeto Baú de Leitura
Tel.:
(79) 3259-6971/6928
Encontrado
em:http://www.direitosdacrianca.org.br/em-pauta/ensino-contextualizado-leva-realidade-dos-alunos-para-a-sala-de-aula/?searchterm=None
Foto: Google
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