quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Educação Contextualizada

Ensino contextualizado leva realidade para escolas

Por Instituto Recriando, organização integrante da Rede ANDI Brasil em Sergipe.

     Para melhorar o processo ensino aprendizagem de crianças e adolescentes brasileiros, criam-se métodos educacionais mais atrativos para os estudantes e eficazes na obtenção de melhores resultados. Uma dessas tentativas está presente na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº 9.394, que desde 1996 prevê, em seu artigo 28, a adaptação dos conteúdos curriculares às peculiaridades da zona rural e das demais regiões, além da utilização de metodologias de ensino que atendam as reais necessidades dos alunos.
      Essa proposta de ensino, a que se pode chamar de educação contextualizada, tem como principal foco abordar os conteúdos em sala de aula tendo como base os elementos sociais, culturais e ambientais característicos do meio no qual os alunos estão inseridos. Além de proporcionar um maior contato entre o educando e a região em que vive e estimulá-lo a valorizar as especificidades e potencialidades locais, essa prática pedagógica busca fazer com que o estudante passe a ter maior interesse pelos conteúdos que dizem respeito a sua realidade. Porém, é importante ressaltar que a metodologia não pretende isolar esses meninos e meninas nas suas regiões e nem impedir que eles conheçam outras maneiras de viver.
      Apesar das primeiras experiências de implementação do ensino contextualizado terem ocorrido no campo, em especial na região do semiárido brasileiro, a metodologia também tem sido disseminada e proposta para outras regiões, a exemplo da Amazônia e dos grandes centros urbanos. Os aspectos locais precisam ser conhecidos não só pelas crianças e adolescentes, mas pela população geral para que seja possível promover desenvolvimento e equidade.
Surgimento - As discussões e críticas acerca da educação universalista, ou seja, aquela que trabalha os mesmos conteúdos com os alunos das mais diversas regiões utilizando a mesma metodologia, vem desde os anos 1960. Mas foi na década de 90 que o movimento organizado pelo modelo contextualizado de educação tomou dimensão nacional. Em 1996, a LDB determinou que a oferta de educação básica para comunidades localizadas no campo deveria ser baseada em conteúdos curriculares e metodologias de ensino adaptados à realidade dos educandos e às peculiaridades de cada região. Após duas Conferências Nacionais realizadas em 1998 e em 2004, o Conselho Nacional de Educação aprovou diretrizes nacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. Ao mesmo tempo, surgiram propostas de políticas públicas para esse contexto.
A proposta no semiárido - A metodologia de educação contextualizada é trabalhada em duas vertentes: a proposta da educação contextualizada no campo e a educação para a convivência com o semiárido. As duas iniciativas tentam reverter a descontextualização histórica do ensino fundamental brasileiro, e se diferenciam no que diz respeito ao ambiente onde são aplicadas. A primeira é uma proposta voltada para as escolas localizadas nas áreas rurais de todo Brasil, enquanto que a segunda é direcionada às zonas rural e urbana do sertão.
      No caso do semiárido, a proposta é desenvolvida juntamente com os alunos em sala de aula de forma a auxiliar na compreensão do semiárido brasileiro como um lugar de vida, desmontando estereótipos como “homem sertanejo fraco”, “terra seca e improdutiva” e garantindo o sucesso das crianças na escola e a sua permanência na região. Para isso, é necessário que os conhecimentos a serem trabalhados sejam construídos no espaço escolar e fora dele, tendo as experiências do cotidiano dos alunos como ponto de partida.
      Mesmo diante de resultados satisfatórios, como avanços na leitura e na escrita, e redução dos índices de evasão escolar e repetência, são diversos os entraves que dificultam a implementação da educação contextualizada. A questão cultural é um dos maiores empecilhos, já que historicamente as políticas públicas no Brasil são formuladas sem considerar a grande diversidade do país. Um exemplo dessa descontextualização são os livros didáticos confeccionados com referências apenas aos centros urbanos.
Experiências no Nordeste - A primeira experiência de proposta de educação para a convivência com o semiárido ocorreu no município Curaçá, na Bahia, que passou a ser apontada como referência. Porém, há outros exemplos bem sucedidos na região sisaleira baiana, no município cearense de Crateús, e em Petrolina, Pernambuco. No município Picuí, localizado a cerca de 220km de João Pessoa, na Paraíba, a educação para a convivência com o semiárido já é adotada como política pública.
      Em Sergipe, a experiência pioneira desse novo modelo aconteceu em 1998, no povoado Sítios Novos, município de Poço Redondo, localizado a 183 quilômetros da capital. O projeto pedagógico foi desenvolvido na Escola Municipal Bom Jesus dos Passos, como alternativa de enfrentar e mudar os problemas vividos no município através de uma nova educação. Além da experiência em Poço Redondo, os municípios de Poço Verde e Simão Dias desenvolveram a educação para convivência com o semiárido utilizando, inclusive, livros didáticos contextualizados.
      O projeto de implementação do ensino contextualizado nessas regiões alcançou avanços consideráveis que vão desde a adaptação da grade curricular à realidade dos educandos até investimentos na educação continuada dos professores que passaram a entender a importância de fazer do aluno um indivíduo capaz de intervir e transformar a realidade à sua volta.
Livro didático contextualizado - O livro didático é uma ferramenta muito importante no processo educativo. Porém, os livros utilizados nas escolas do campo e do semiárido brasileiro não despertam muito interesse nos educandos. Eles apresentam uma realidade distante desses meninos e meninas, o que compromete o aprendizado e a construção do pensamento crítico.
      Foi na tentativa de reverter essa situação que a Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB), com o apoio financeiro do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), reuniu autores e educadores e sistematizou experiências bem sucedidas de educação desenvolvidas em estados do nordeste. Essa sistematização permitiu elaborar a publicação experimental “Conhecendo o Semiárido”, que está organizada em dois volumes e é destinada a alunos da 3ª e 4ª séries.
      Os livros adequados à realidade do estudante conseguem contextualizar os conhecimentos diversos sem negar o acesso aos conhecimentos científicos mais universais. Eles ajudam a melhorar a qualidade de ensino, contribuindo para o processo de construção da identidade, porque não causam estranhamento nos estudantes.
     Sergipe é um dos estados que adotou o livro didático contextualizado ‘Conhecendo o Semiárido 1 e 2’. O título foi utilizado nas escolas municipais Pedro Rodrigues de Souza e a Agrícola Presidente José Sarney, em Poço Verde, e na Genésio Chagas e Desembargador Gervásio Prata, em Simão Dias.
     Como forma de fortalecer e ampliar essa busca por uma educação adequada para crianças e adolescentes do semiárido, a Rede de Educação Básica do Semiárido está tentando incluir os livros didáticos de ensino contextualizado no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), a fim de que todos os alunos e professores das escolas públicas tenham acesso a esses materiais o mais rápido possível.
Baú de Leitura - O Projeto Baú de Leitura (PBL) é um modelo inovador de Educação Contextualizada que visa construir o conhecimento de forma participativa através de uma metodologia que tem como base o ambiente e a cultura local. O principal objetivo do PBL é fomentar a prática de uma leitura crítica e participativa, tomando cuidado para que os estudantes não percam o encanto pelas histórias que lhes são apresentadas. Os resultados trazidos pelo projeto são transformadores no sentido de aprimorar a leitura e a construção de conteúdo por parte das próprias crianças, que cada vez mais sentem prazer em ler e valorizam o local onde vivem. Durante os encontros, os meninos e meninas são levados a saborear cada história através da interpretação, entendimento e confronto dos textos com a própria realidade. O processo de aprendizado também conta com o momento de produção por parte dos alunos, que criam e recriam as histórias através de atividades lúdicas como peças de teatro, desenhos e pinturas.
      Em Sergipe, o projeto começou a ser implantado em 2001, na região sul do estado, em especial nos Programas de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), como uma forma de prevenção e combate à exploração da mão de obra de crianças e adolescentes. Atualmente, a proposta está sendo executada em 40 escolas municipais e em espaços de desenvolvimento das ações socioeducativas e de convivência do Peti.
      Diante dos bons resultados alcançados, além dos 40 municípios sergipanos, o projeto vem sendo desenvolvido em 98 municípios da Bahia e em 18 municípios alagoanos, como parte das atividades de um novo Pontão de Cultura, em Palmeira dos Índios, coordenado pelo Movimento pró-Desenvolvimento Comunitário.
      Os baús são confeccionados em couro e compostos por materiais didáticos e vários livros de literatura infanto-juvenil. Cada baú contém 54 livros de 18 títulos diferentes, divididos em três temáticas: Identidade pessoal, cultural e local; Nossa relação com a natureza, tecnologia e meio ambiente; e Cidadania. As ações do Baú de Leitura em alguns municípios de Sergipe são monitoradas pelo Centro Dom José Brandão de Castro à convite do MOC e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).


    Contatos:
    Rede de Educação do Semi-Árido Brasileiro (Resab)
    Adelaide Pereira da Silva – Membro da Secretaria Executiva da Resab
    Tel.: (83) 32556196/99032859
    União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
    Carlos Eduardo Sanches – presidente
    Tel.: (61) 3037-7888
    Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação
    Maria do Pilar Lacerda Almeida e Silva
    Tel.: (61) 2022-8318/8319/8320
    Universidade de Brasília – Campus Universitário Darcy Ribeiro
    Tel.: (55 61)3107-3300
     Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC)
    Simone Peixoto, coordenadora do Projeto Baú de Leitura
    Tel.: (79) 3259-6971/6928
Encontrado em:http://www.direitosdacrianca.org.br/em-pauta/ensino-contextualizado-leva-realidade-dos-alunos-para-a-sala-de-aula/?searchterm=None

Foto: Google

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